Educação para a Cidadania, os Direitos Humanos, a Educação para a
Igualdade e Saúde Sexual Compreensiva – um contributo Catarina Furtado
Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, Presidente da Associação Corações Com Coroa. A construção de sociedades mais justas, humanistas, desenvolvidas e solidárias
passa necessariamente pela promoção e defesa da cidadania e dos direitos
fundamentais de cada uma e de todas as pessoas, num coletivo estrutural para a
construção de um mundo melhor com pessoas informadas, responsáveis,
empoderadas, de todas as idades e origens socioculturais. Uma das aprendizagens
que me interessa passar é a de que os conceitos Cidadania, Igualdade e
Desenvolvimento são indissociáveis de Direitos Humanos. A expressão Direitos
Humanos num título de uma conferência, num artigo técnico ou de opinião cria
sempre expectativas sobre o que podemos vir a saber para fazer mais e melhor
pela humanidade, sem esquecer nunca quem é mais invisibilizado ou esquecido, ou
seja, as meninas e as mulheres. Importa também reforçar o papel da escola, o
palco transformador de comportamentos e culturas e potenciar aqueles e aquelas
que no presente, queremos que construam um mundo melhor, mais empático e
responsável, os rapazes e raparigas desta nossa humanidade partilhada. Os
direitos humanos são universais, indivisíveis, inalienáveis e interdependentes,
são direitos fundamentais protegidos por mecanismos legais que visam incluir no
tecido social, nas políticas públicas e nos comportamentos individuais e
coletivos, o sentido de pertença e respeito máximo pelo outro. Sempre em
harmonia com os pressupostos de não violência, não discriminação e inclusão
social, essenciais para o futuro deste mundo global. Enquanto Embaixadora de
Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) tenho ouvido muitas histórias na 1.ª
pessoa onde a maternidade adolescente, os casamentos precoces e forçados, o
VIH/SIDA, a mutilação genital feminina (MGF), a mortalidade materno-infantil, a
violência nas relações afetivas e familiares, integram o dia-a-dia de milhões
de crianças, jovens e pessoas adultas nos diferentes continentes. Mas a verdade
é que também conheço a resiliência e a força de grupos de mulheres e jovens que
fazem a diferença nas suas comunidades e países, como por exemplo, os clubes de
liderança feminina que conheci no Ghana, as bancadas femininas em Moçambique,
que juntam raparigas para debater e agir contra a violência (incluindo a
sexual) e a discriminação com base no género, os grupos de mulheres e jovens da
Guiné Bissau que recusam a MGF e os casamentos precoces e forçados, ao mesmo
tempo que promovem e apoiam a educação formal e os cuidados adequados de saúde
sexual e reprodutiva de meninas e raparigas da sua família, do seu bairro, da
sua tabanka, do seu país. São histórias inspiradoras que ajudam a
mobilizar saberes, vontades e recursos e permitem um contributo essencial para
que a Agenda 2030, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os
Direitos Humanos se cumpram, sem esquecer ninguém. A Educação para a Igualdade
e Saúde Sexual e Reprodutiva é também parte essencial da missão da Associação
Corações Com Coroa (CCC) que fundei há 7 anos e da qual sou presidente. Missão
que tem entre as respostas sociais empoderadoras para as necessidades
encontradas, as Bolsas de Estudo CCC (dirigidas exclusivamente a raparigas a
partir do 9.º ano da escolaridade e ensino universitário e que incluem
aconselhamento bio-psico-social); o Atendimento CCC (com consultas gratuitas em
áreas como a psicologia, o serviço social, saúde, medicina dentária,
aconselhamento alimentar, apoio jurídico e que abrangem temáticas como
sexualidade e informação contracetiva, parentalidade positiva, violências e
discriminação, consumos, entre outras) e ainda o projeto CCC vai à Escola.
Trata-se de uma resposta artística-pedagógica assente num texto de Jorge
Palinhos, com encenação de Natália Luiza e interpretado por uma dupla de
atores. Entre 2016 e dezembro de 2018 foi apresentado e debatido em 431 turmas
do 9.º ano, em escolas de vários pontos do país, para um universo de 1738
raparigas e 1795 rapazes. A violência no namoro, a gravidez adolescente, as
relações afetivas, o bullying e ciberbullying, os pedidos de ajuda, os
percursos escolares interrompidos e a exclusão social, são alguns dos temas que
são abordados e esmiuçados por uma técnica da associação, num debate realizado
a seguir à peça de teatro, e onde, frequentemente, se partilham testemunhos que
não nos deixam dúvidas sobre a pertinência do projeto. O modelo de intervenção
CCC vai à Escola, assim como o seu conteúdo, enquadra-se na Educação para a
Cidadania, com particular enfoque na Educação para a Igualdade de Género,
Educação Sexual e Não-violência. CCC Vai à Escola visa reforçar a importância
de rapazes e raparigas conhecerem e refletirem sobre os seus direitos e o poder
transformador que essa aprendizagem poderá ter no seu futuro, procurando uma
consciencialização sobre temas adequados ao seu nível etário e de escolaridade.
Trata-se simultaneamente de uma ferramenta de ação na desconstrução de
estereótipos que perpetuam comportamentos não saudáveis e não responsáveis e de
prevenção de situações de violência e discriminação. Reforça a identificação e
o reconhecimento das problemáticas e promove a capacidade de agir sobre elas,
incluindo através do desenvolvimento de diferentes competências. Esta abordagem
da Educação Sexual Compreensiva e Abrangente no contexto da Educação para a
Cidadania, partindo das necessidades identificadas e das respostas urgentes
para um efetivo avanço dos Direitos Humanos, da igualdade de género e da
melhoria do acesso à saúde sexual e reprodutiva, representa uma parte muito
significativa do meu compromisso e contributo para um mundo com o qual
verdadeiramente me identifico e com o qual sonho. O mundo que gostaria que os
meus filhos adolescentes ajudassem a construir. Na CCC conhecemos alguns dos
avanços e desafios que se colocam à Igualdade, aos Direitos Humanos, à
Cidadania e ao Desenvolvimento em Portugal e no Mundo, e acreditamos que ao
informar, comunicar e partilhar estes temas, provocamos a ação e a mudança na
sociedade civil, nas agendas públicas e políticas e na vida de cada pessoa. E
para isso, também contamos com a colaboração da porta-voz para as temáticas da
juventude, a atriz Mariana Monteiro que, com verdadeiro espírito de missão,
partilha o seu tempo e saber com muitas raparigas e rapazes. Para aprofundar
algumas destas informações e pesquisar recursos técnico pedagógicos proponho
que se consulte, por exemplo: https://www.unfpa.org/comprehensive-sexuality-education;
https://popdesenvolvimento.org/images/noticias/WHO_SHRH_2018_EN.pdf;
http://www.coracoescomcoroa.org/about. Contactos CCC: E-mail:
coracoescomcoroa@gmail.com, Telefones: 935 038 798 / 215 990 053. Site:
www.coracoescomcoroa.org. Rua da Junqueira, 295-297, 1300-338 Lisboa
Em que consiste a
violência de género?
Para melhor conheceres a tua comunidade, entrevista pessoas de diferentes
etnias, raças, religiões e orientação sexual. Regista em vídeo/audio os
testemunhos.
Fala com pessoas de diversas etnias, raças e religiões e crenças
espirituais
Discussão do tema
Questionário:
Alguma vez sentiste que os teus direitos humanos foram desrespeitados?
Pesquisa sobre sobre:
Igualdade salarial
Direitos humanos
Igualdade de género
Elabora uma notícia sobre o tema abordado que mais te impressionou e publica-a nos órgãos de comunicação social
da escola.
No Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação
Genital Feminina, recordamos o testemunho de Catarina Furtado, Embaixadora da
Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, que num artigo
publicado originalmente na edição de abril de 2019, dá voz às vítimas da
mutilação genital feminina.
genital feminina.
“Tinha sete anos, fui levada pela minha mãe a uma festa onde estavam outras
meninas e muitas tias. Havia música. Lembro-me de sentir uma dor muito forte e
depois esqueci. Tive oito filhos, quatro já morreram. Sou filha, neta e
sobrinha de fanatecas, eu também praticava mas abandonei porque temos uma lei
que proíbe este ritual. Percebi o que acontecia às mulheres. Nas minhas netas
ninguém mexe. Eu não deixo!”, Binta.
Frases curtas de uma longa e dolorosa conversa que tive recentemente com
uma ex-fanateca em Bissau. Sentei-me bem perto de Binta a ouvir a sua história,
depois de uma sessão de sensibilização com crianças, jovens, mulheres e líderes
religiosos, num dos bairros da capital da Guiné-Bissau, protagonizada por
Fatumata Djau Baldé, uma defensora acérrima dos direitos
das mulheres e
Presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas à Saúde da
Mulher e da Criança (CNAPN).
Uma conversa
com confidências de uma intimidade que custa ser partilhada. Às vezes sinto-me
esmagada pelo conteúdo da informação, mas também pela confiança que cada
testemunha deposita na minha vontade de querer saber mais para poder informar e
denunciar melhor. São momentos de uma imensa generosidade que revelam
sentimentos e factos muito difíceis de digerir e, apesar de eu estar
familiarizada com o tema, tenho a clara noção de que a minha empatia não
chegará nunca para entender o real impacto ao nível emocional e físico nestas
crianças, raparigas e mulheres. Ao longo dos anos tenho ouvido muitas histórias
verdadeiras neste idioma que nos une. Mas também noutros cantos deste mundo
onde nascer mulher continua a significar ser vítima, sobrevivente e guerreira de
uma igualdade empoderada que tarda em chegar.
São cerca de
200 milhões de meninas e raparigas que têm na memória uma dor incalculável e
uma marca eterna. Eu vi meninas a saírem das suas tabancas de pernas abertas, a
arrastarem-se. Eu ouvi gritos acutilantes que necessariamente teriam de
atravessar todas as fronteiras do mundo para ensurdecer os decisores ao ponto
de se dizer basta. Se nada for feito até 2030 serão mais 68 milhões vítimas (só
em 25 países). Uma realidade que está apenas a 11 anos daquele que é o
compromisso com o presente e o futuro da nossa humanidade, explícito na agenda
global dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também assinada por
Portugal.
A Mutilação Genital Feminina (MGF) é a prática de que lhe falo numa
imparcialidade inevitável. A primeira vez que abordei o tema foi em Nova Iorque
num encontro de Embaixadores das Nações Unidas. Num intervalo dos trabalhos, a
fabulosa modelo Internacional Waris Dirie contou-me a sua história pessoal de
uma vez só e deixou-me sem reação. Relatou sem pieguices a dor que sentiu
quando tinha cinco anos e a passividade com que se é obrigada, necessariamente
a sentir essa dor. “Todo o ritual é baseado no poder do homem. As meninas não
sabem o que lhes vai acontecer mas na noite anterior têm atenções especiais e uma
refeição extra, mais apetecível. Disseram-me que no dia seguinte seria Mulher e
que bom que era! Não foi. Nunca mais foi.”
Waris nunca se
sentiu recuperada apesar da coragem de, aos 13 anos, ter fugido pelo deserto
porque não queria casar com essa idade e de a sua vida ter dado uma volta de
180 graus: passou de uma cabana de pastores na Somália para as capas da Vogue de todo o mundo, quando já em Londres,
alguém de uma agência de modelos a descobriu por acaso e não ficou indiferente
à sua beleza. A sua história já deu um livro e um filme, Flor do Deserto. Mas a verdade é que apesar deste
sucesso todo, eu senti que Waris tinha uma urgência quase incontrolada de
contar a sua experiência de viva voz, porque não a aguenta apenas na sua
memória e nas consequências.
Disse-me que na
altura, apesar de ter estado alguns dias com uma infeção e febres altas, tinha
tido muita sorte porque não morreu como tantas outras mulheres e crianças que
tiveram esse desfecho devido a hemorragias, choques, septicemias ou tétano. Lembro-me
que uma das confissões que me mais me marcou nesse nosso encontro foi ter
partilhado a sua incapacidade para amar e para se deixar amar. E não estava
apenas a falar da dimensão sexual (disse-me inclusivamente que nunca soube o
que é ter prazer, que não conhece o significado de um orgasmo), mas do impacto que a
mutilação genital tinha tido e continuava a ter na sua vida e nas relações
afetivas, que a impediu de conseguir construir bases sólidas de dar e receber.
A sua batalha diária transformou-se no Fim da MGF, falando em voz alta,
publicamente, para que a erradicação desta prática nefasta seja um dia
realidade. Waris continua a fugir sem se deixar apanhar porque uma parte de si,
verdadeiramente importante, lhe foi roubada e ficou para sempre no
deserto.
A MGF, que
também é designada por expressões como fanado, cirurgia, prática tradicional,
corte e tantas outras, para o sistema das Nações Unidas e diferentes organizações
nacionais e internacionais, corresponde simplesmente à definição: toda a
intervenção sobre os genitais femininos por razões não médicas. Para o Dr.
Mourissanda Kouyaté, médico de Saúde Pública e perito junto da ONU, práticas
tradicionais nefastas “são todas as práticas feitas deliberadamente por homens
e mulheres noutros seres humanos por razões não médicas, mas sim por motivos
culturais e convenções
sociais e que têm
consequências nefastas na saúde e nos direitos das vítimas”.
De acordo com
os dados mais recentes do Fundo
das Nações Unidas para a População, UNFPA (do qual sou Embaixadora de Boa Vontade há já 19 anos), a MGF,
dependendo dos países e das comunidades, é praticada por pessoas mais velhas e
com relevância simbólica nos bairros (mulheres e homens), por membros de
sociedades secretas, por curandeiras, por familiares respeitosos. Há, no
entanto, dados preocupantes que apontam, em alguns lugares do mundo e
contrariando as decisões das associações representativas, o exercício da MGF
por profissionais de saúde em ambiente hospitalar ou de consultório. Por
exemplo, no Egito (38%), Sudão (67%), Quénia (15%), Nigéria (13%) e
Guiné-Conacri (15%). Estudos e registos de meninas e mulheres que sofreram
algum tipo de mutilação genital feminina existem em pelo menos 71 países de
África, Ásia, Médio Oriente, América do Sul, Europa (incluindo Portugal) e EUA.
Ou seja, quem hoje lê este texto, provavelmente, já se cruzou na sua vida
diária, em tempo de férias ou viagens profissionais, com uma mulher, jovem ou
criança vítima ou em risco de o vir a ser.
Mas na verdade,
nem todas as meninas e mulheres oriundas dos países com prevalência de MGF
foram mutiladas. Também não é a religião o fator determinante – porque existem
meninas e mulheres com MGF em diferentes religiões. A MGF não é uma prática de
natureza religiosa, não consta em nenhum livro sagrado (Bíblia, Tora e Corão) e
está identificada em grupos cristãos (protestantes, católicos e coptas),
judeus, animistas, muçulmanos e ateus. Aqui mesmo em Portugal, num encontro
promovido pela minha associação sem fins lucrativos, Corações Com Coroa, Malam Djassi, prof. corânico e líder religioso guineense explicou-me que
“o Islão é uma religião de paz e apela sempre ao cumprimento da legislação dos
países e aos direitos humanos”.
Quando vejo e
converso com vítimas e sobreviventes de uma MGF, quando participo em
conferências e ações de formação onde as fotografias e os diagramas são
revelados, quando leio os relatórios e oiço as histórias recolhidas em tantas
partes do mundo, eu não vejo os símbolos que aparecem sempre agregados às
campanhas, as flores costuradas, as gotas de sangue ou as lâminas, algumas
enferrujadas. O que me chega, o que me atinge, são as dores, o sofrimento e a
resiliência que se transformam em força quando estas mulheres percebem que
estão seguras e com confiança para falar, partilhar e fazer a diferença.
Oferecendo corajosamente a sua história para que outros a contem, participando
em pequenos grupos ou palestras, cada uma destas mulheres representa a
capacidade de se reerguer, e são uma inspiração inesgotável que me leva a
escrever e a falar em prol do abandono da MGF e de todas as práticas nefastas
aos direitos humanos de meninas e mulheres.
“Sentia muitas dores na menstruação, mas diziam que era normal. Tinha dores quando fazia
relações sexuais, mas diziam que era normal. Só quando o meu filho nasceu e eu
me rasguei ao ponto de fazer uma fístula obstétrica e fui ao médico, é que
percebi que não era normal. Eu tinha uma mutilação muito severa. Passados uns
anos vim para Portugal estudar. Hoje sou enfermeira e vou voltar ao meu país
para ajudar a família mas também para salvar as meninas e as mulheres que lá
ficaram”, Cadija.
Com frequência
vou a escolas e universidades onde este assunto nunca foi falado. Encontro-me
amiúde com jovens portuguesas, mas com origens familiares noutras geografias
onde a MGF é praticada que têm filhas, sobrinhas e netas e que me dizem que
aqui em Portugal, o assunto nunca foi abordado nas creches, escolas ou em
consultas médicas. Falam-me da campanha contra a mutilação genital feminina
exposta no Aeroporto de Lisboa, do episódio do meu programa de televisão Príncipes do Nada, onde abordei esta temática e de um
ou outro encontro com associações. Mas também desabafam que são quase sempre os
homens a marcar presença nas reuniões porque elas ou estão a trabalhar ou não
querem partilhar as suas histórias com pessoas que não as entendem.
A Mariama, por
exemplo, vive em Portugal há 17 anos, frequenta semanalmente a mesquita próxima
da sua casa mas também aí nunca falam do assunto. Chego muitas vezes à
conclusão de que com a implementação da lei em 2011 na Guiné-Bissau e com
projetos promovidos no terreno por diferentes associações, a consciência de que
a MGF é uma terrível violação dos direitos humanos da meninas e mulheres está
mais clara neste país em desenvolvimento do que no nosso. Enquanto Embaixadora
de Boa Vontade do UNFPA tive oportunidade de participar nas Nações Unidas numa
Conferência onde se afirmava que somos a geração que pode pôr fim à MGF e que
para tal é crucial que sejamos capazes de estabelecer pontes entre países e
saberes. Sei que é o caminho que se está a fazer quando, por exemplo, tenho a
oportunidade de testemunhar o trabalho de equipas da Associação P&D Factor e do CNAPN nos bairros de Bissau ou quando me reúno no concelho de Lisboa com
grupos de profissionais, jovens ou mulheres, para falar de Direitos Humanos e
onde a MGF, os casamentos infantis, precoces, arranjados e forçados são sempre
tema.
Vezes demais considerada como um ritual de passagem para a vida adulta, a MGF
pode resultar em graves complicações para a saúde, incluindo infeções, dor
crónica, quistos, infertilidade, além de problemas de saúde mental como o
stress pós-traumático. Pode até ser mortal. Mas tem outra dramática
consequência que é afastar as meninas da escola e da proteção social. Recordo
por isso as palavras do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres:
“Com a dignidade, a saúde e o bem-estar de milhões de meninas em jogo, não há
tempo a perder. Juntos, podemos e devemos acabar com essa prática prejudicial.”
A ONU define
Direitos Humanos como “garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e
grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade
humana” pelo que sublinho que a MGF feita em qualquer parte do mundo é sempre
um atentado grave aos direitos, à saúde, à integridade física, à não sujeição a
nenhuma forma de tortura ou tratamento cruel, à não discriminação, aos Direitos
ao Desenvolvimento. Para se erradicar a mutilação genital feminina são
necessários esforços coordenados, sistemáticos e contínuos, que devem envolver
todas as comunidades e atores sociais defendendo a igualdade de género, sem
esquecer a saúde sexual e reprodutiva de quem sofre as consequências desta
prática.
Precisamos de
partilhar os conhecimentos, de empoderar as raparigas e as mulheres, de educar os jovens e os menos jovens para a não
violência e a não
discriminação. Precisamos de empatia solidária e humanista.
Gostava de ser
capaz de pôr a prevenção, a cidadania e os direitos de quem não se consegue
defender sozinha na agenda diária de todas as decisões políticas e técnicas que
formatam as nossas vidas no mundo inteiro. Um mundo que desejo sem muros, nem
fronteiras de língua, religião ou cultura. No ano em que o UNFPA comemora o seu
50.o aniversário não posso deixar de lembrar que erradicar a MGF é uma das
nossas missões e que muito há ainda a fazer, se possível, no espaço de uma
geração. Informar, prevenir, proteger, tratar e amar é um mantra que repito
todos os dias em nome de todas as heroínas que tenho conhecido e que não
esqueço.
Se quiser saber mais, procure em: www.unfpa.org, www.popdesenvolvimento.org, www.cig.gov.pt.
Artigo originalmente publicado na edição de abril 2019
da Vogue Portugal.
-Informa-te sobre os países e comunidades nas quais é praticada a mutilação genital.
Consulta, por exemplo o sítio: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47136842
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“A mendiga e o
samurai” – surpreendente conto japonês que fará com que você repense seus
relacionamentos
Por
-
agosto 5, 2019
Conta-se
que um bravo samurai viveu na ilha de Hokaido, no norte do Japão. Era um
senhor feudal que possuía grandes áreas de terra, tendo, assim, muitos súbditos.
Tudo adquiriu após diversas batalhas, ao comando das tropas do Imperador.
Certa
altura, após uma guerra, voltou para a sua terra natal e decidiu que iria
casar-se. Tratava-se de um homem forte e belo e, quando a notícia de que o
Samurai desejava casar-se se espalhou, por toda a ilha toda a mulher desejava ser escolhida. As mulheres mais bonitas da ilha e de outras ilhas mais distantes visitavam-no em seu palácio, sendo que muitas delas lhe ofereceram, além de sua
beleza e encantos, muitas riquezas. Nenhuma, contudo, o satisfez o
suficiente para se tornar sua esposa.
Um
dia, uma jovem maltrapilha e simples chegou ao palácio do Samurai e, com
muita luta, conseguiu uma audiência:
“Eu não tenho nada material para lhe oferecer, só posso lhe dar o grande amor
que sinto por si”. Como prova, complementou: “Se me permitir, posso
fazer algo para mostrar esse amor”.
Isso
despertou a curiosidade do Samurai, que lhe pediu para dizer o que poderia
fazer.
“proponho-me passar 100 dias na sua varanda, sem comer ou
beber nada, exposta à chuva, relento, sol e frio à noite. Se eu aguentar esses
100 dias, far-me-á sua esposa”, afirmou a jovem.
O
Samurai, surpreso (embora não comovido), aceitou o desafio. Ele disse: “Eu
aceito. Se uma mulher pode fazer tudo isso por mim, é digna de ser minha
esposa”.
Dito
isto, a mulher começou o seu sacrifício.
Os dias começaram a passar e a mulher suportou bravamente as piores tempestades. Muitas vezes, sentia que desmaiava de fome e frio, mas o imaginar que haveria de estar ao lado de seu grande amor, encorajou-a.
De
tempos em tempos, o Samurai mostrava-lhe o rosto do conforto de seu quarto e acenava com o polegar.
À
noite a temperatura caiu para muitos graus negativos e isso por si só deveria
ser um grande sofrimento, porque a rapariga não tinha um único cobertor.
Foi
assim que o tempo passou: 20 dias, 50 dias… As pessoas da ilha ficaram felizes
porque pensaram: Finalmente teremos uma esposa para o nosso Senhor!
90
dias … O Samurai continuou a mostrar a cabeça de vez em quando para ver como
estava o sacrifício de sua pretendente: “Esta mulher é incrível”, pensou
consigo mesmo, e encorajou-a novamente.
O
dia 99 finalmente chegou e todos os habitantes da ilha começaram a reunir-se nos arredores do palácio para ver o momento em que aquela mulher se tornaria a
esposa do Samurai. Eles estavam contando as horas, porque às 12 horas daquele dia, teriam um casamento.
A
pobre mulher, na sua grande simplicidade, foi ainda acometida por extrema
fraqueza e por doenças… Então algo inesperado aconteceu: às 11 da noite do
centésimo dia, a mulher corajosa rendeu-se e decidiu.se retirar daquele
palácio. Deu uma olhadela triste no Samurai que o fitava surpreso e saiu sem
dizer uma palavra.
As
pessoas ficaram chocadas! Ninguém conseguia entender por que aquela mulher
corajosa desistira uma hora antes de ver os seus sonhos se realizarem. Ela que já tinha suportado tanto!
Ao
chegar a sua casa, o seu pai já sabia da sua desistência e perguntou: “Por que desististe de ser a esposa do grande Samurai?”
E,
para seu espanto, a rapariga respondeu: “Eu estive 99 dias e 23 horas na sua varanda,
suportando todos os tipos de calamidades e ele foi incapaz se me libertar desse
sacrifício. Ele viu o meu sofrimento e só me encorajou a continuar, sem mostrar nem
um pouco de compaixão pelo meu sofrimento. Esperei todo esse tempo por um
vislumbre de bondade e consideração que nunca veio. Então eu entendi: uma
pessoa tão egoísta, imprudente e cega, que só pensa em si mesma, não merece o meu
amor!”
Isso
nos faz refletir: quando se ama alguém e se ente que para manter essa pessoa ao
seu lado se tem que sofrer, sacrificar a sua essência e até implorar, mesmo que
doa, retire-se, não tanto porque as coisas ficam difíceis, mas porque quem
não nos faz sentir valorizado, quem não é capaz de nos doar o melhor de si
mesmo, será incapaz de retribuir o compromisso e a entrega que lhe dispensamos e, DEFINITIVAMENTE, merecemos um amor do tamanho nós próprios..
Este
conto foi adaptado do site: Rincón del Tibet
.
1.Com quem te identificas mais: com o Samurai ou com a Mendiga ?
2. Faz um comentário ao artigo tendo em linha de conta a atitude do Samurai e da Mulher.
Penélope foi uma heroína mítica, cuja beleza não era maior que seu
caráter e sua conduta. Filha de Icário, um príncipe espartano, Ulisses pediu-a
em casamento conquistando-a entre muitos competidores que participaram dos
jogos instituídos por seu pai. Porém depois do casamento, quando chegou o
momento em que a jovem esposa deveria deixar a casa paterna, seu pai Icário não
aceitando a ideia de separar-se da filha, tentou persuadi-la a permanecer ao
seu lado e não acompanhar o marido a Ítaca. Ulisses deixou que Penélope
escolhesse e ela silenciosamente cobriu o rosto com um véu e seguiu o marido.
Icário entendeu e mandou construir uma estátua do Pudor onde se havia separado
da filha.
Ulisses e Penélope haviam se casado e apenas um ano depois tiveram de
separar-se em virtude da partida de Ulisses para a Guerra de Troia. Enquanto
Ulisses guerreava em outras terras e seu destino era desconhecido, o pai de
Penélope sugeriu que sua filha se casasse novamente, mas por ser uma mulher
apaixonada e fiel ao seu marido, recusou dizendo que o esperaria a volta de
Ulisses.
Durante a longa ausência de Ulisses muitos duvidavam que ele ainda
estivesse vivo ou que era improvável que algum dia retornasse. Penélope foi
importunada por inúmeros pretendentes, dos quais parecia não poder livrar-se
senão escolhendo um deles para esposo. Contudo, Penélope lançou mão de todos os
artifícios para ganhar tempo, ainda esperançosa do regresso de Ulisses.
Um de seus artifícios foi o de alegar que estava empenhada em tecer uma
tela para o dossel funerário de Laertes, pai de seu marido, comprometendo-se em
fazer sua escolha entre os pretendentes quando a obra estivesse pronta. Durante
o dia, aos olhos de todos, Penélope trabalhava tecendo; à noite, secretamente
desfazia o trabalho feito. E a famosa "Tela de Penélope" passou a ser
uma expressão proverbial, para designar qualquer coisa que está sempre sendo
feita mas que nunca termina.
Porém tendo sido descoberta em seu artificio, ela propôs outra condição
ao seu pai. Conhecendo a dureza do arco de Ulisses, ela afirmou que se casaria
com o homem que o conseguisse encordoar. Dentre todos os pretendentes, apenas
um camponês humilde conseguiu realizar a proeza. Imediatamente este camponês
revelou ser Ulisses, disfarçado após seu retorno. Penélope e Ulisses tiveram
apenas um filho chamado Telêmaco.
********************
O mito de Penélope mostra uma das mais claras e populares imagens de
feminilidade, da pessoa que espera pelo amor e enquanto espera, pacientemente,
borda, tece, junta os fios e as cores. A referência à difícil trama dos tapetes,
do desencontro dos fios e da combinação das cores, tanto nos reporta aos
acontecimentos da própria existência, tecidos por uma dolorosa memória, como
nos fala de criação, invenção e a possibilidade de conhecer outros caminhos.
A tela que Penélope tece tem o objetivo de protegê-la e aquecê-la.
Destituída de afeto, ela tece para cuidar de si mesma em seus piores momentos
de solidão e, ainda que espere por Ulisses por toda sua vida, não tece porque
espera, ela tece a sua solidão, seu sentimento de abandono, de orfandade e
rejeição. Enquanto espera, desfaz os pontos antigos, cria outros desenhos,
novas matizes à espera de si mesma. A espera é uma contagem regressiva da
esperança que Penélope coloca nos Laços e Nós de sua tapeçaria.
Os laços são os vínculos afetivos que nos unem aos outros. Com a
convivência ou pela falta dela, os problemas surgem e os laços se transformam
em Nós. O Nó não se forma entre o homem e a mulher, ele se forma entre o Eu e o
Outro. Os Nós são os problemas existentes nos relacionamentos, os desafios de
conviver com o outro. Nó é o nome que damos às crises e às dificuldades
naturais das pessoas que convivem e das uniões amorosas: desencontros, brigas,
medo de não ser amado, ciúmes, tédio, falta de liberdade, questões sexuais, infidelidade,
problemas financeiros, divisão do trabalho doméstico, problemas de convivência
com as famílias etc.
Os nós acontecem não por falta de amor, pelo menos não necessariamente.
Os Nós acontecem mesmo onde exista amor; é da natureza humana a dificuldade
para se relacionar. Os seres humanos não conseguem viver sozinhos e não sabem
viver juntos. E nos relacionamentos só há três a fazer: evitar que os Nós
aconteçam, desfazer os Nós ou pelo menos afrouxá-los até poder desatá-los.
Evitar que os Nós aconteçam é uma tarefa que depende do cuidado amoroso,
aceitando o outro como ele é, usando de criatividade para fugir da rotina.
Embora sejam recomendações fáceis, são difíceis de serem praticadas, porque
temos de conviver ainda com a nossa raiva, nossa insegurança, nossa
agressividade e tantos outros sentimentos que convivem dentro de nós mesmos,
lado a lado com os nossos bons e nobres sentimentos.
Não basta apenas ter amor para desatar os Nós entre as pessoas. O amor
não desata, pois sua tendência natural é atrair, unir e ligar. Quando há
sofrimento, é preciso abandonar as fantasias e adquirir habilidades para
comunicar-se bem com o outro, despertando-o para uma conversa amorosa, sem
discursos, xingamentos e acusações.
Nos relacionamentos é mais importante saber ouvir do que falar, porque a
conversa implica em ouvir também o que o outro tem a dizer. Saber ouvir
pressupõe não apenas deduzir das palavras ditas, mas observar a postura, as
emoções, o tom de voz e as expressões. Quando uma pessoa fala verdadeiramente o
que sente, todo o seu corpo corresponde. Essa é a magia necessária à arte de
desatar os Nós que serve, principalmente, para nos sentirmos escutados,
considerados e amados.
Por mais saudáveis que sejam os laços, um dia podem chegar ao fim. Isso
acontece quando um dos dois desiste de investir na relação. O fim dos laços não
está verdade na separação ou na ausência, porque para muitos a ausência serve
para fortalecer a ligação afetiva com o outro. O fim começa quando acabam as
palavras, quando se instala a indiferença. É no silêncio que terminam os
relacionamentos...
http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/2011/07/penelope-o-amor-que-nao-se-cansa-de.html
https://www.youtube.com/watch?v=MabbVn0Rlv4
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas, cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho de outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Penélope
Festa de despedida de Ulisses
Só homens comem e bebem.
No fim, vêm as dançarinas a dançar e a aproximarem-se dos homens com
sorrisos. Estes lançam-lhes moedas. Embebedam-se e deitam-se alegres e alegres
partem para a guerra.
As mulheres de longe choram, sem serem vistas. Uma opõe-se. É afastada de
forma violenta.
Penélope fica no Gineceu, acompanhada de outras mulheres a tecer e a
educar Tlémaco, o filho que brinca.
Dizem-lhe em surdina: Ulisses morreu. Por muito valente que fosse, já
passaram muitos anos
Trazem-lhe propostas de pretendentes que querem casar com ela e tomar o
lugar de Ulisses como rei de Ítaca. O Pai de Penélope aconselha-a:
- Aceita. Ítaca não pode ficar sem ser governada.
1. Continua a História, não a partir do que sabes ter acontecido, mas a
partir do que pensas ser mais justo, segundo o teu ponto de vista e os direitos
humanos.
2.Relato:
Só voz distorcida:
Fui violada. E agora?
Inventa uma história.
3.Sou africana. Devo submeter-me à mutilação genital. Que devo fazer?
4.Escreve e encena uma cena de namoro dos nossos dias, com situações
positivas e negativas.
5.Concorri a um emprego. Tenho um currículo igual ao jovem que comigo
concorreu. Quem será escolhido?
Imagina o diálogo do empregador, a comunicar quem foi selecionado e
porquê.
https://www.youtube.com/watch?v=cLga-3kjdHA
– Mulheres 21m
https://www.youtube.com/watch?v=3vvemysy3d8
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